A nutrição é considerada pela WSAVA (sigla em inglês para a Associação Mundial de Veterinários de Pequenos Animais) como o 5º parâmetro vital na avaliação clínica, antecedida pela temperatura, pulso, respiração e avaliação da dor, por causar um impacto direto na qualidade de vida e longevidade do paciente.
A importância da avaliação nutricional é ainda maior quando o paciente se encontra sob estresse devido as alterações metabólicas decorrentes de algum processo patológico, como nos casos dos pacientes hospitalizados.
Diversos estudos da medicina humana relatam a alta prevalência de desnutrição em pacientes nessa condição (Teixeira et al., 2003; Marcadenti et al., 2011) e estima-se, apesar de poucas publicações a respeito, que o mesmo ocorra em pacientes veterinários, por não receberem a quantidade e o perfil adequado de nutrientes durante a internação (Saker; Remillard, 2006).
Algumas das principais consequências do baixo aporte calórico ao paciente é a diminuição da eficiência imunológica, diminuição da síntese tecidual e metabolismo inadequado às drogas utilizadas para o tratamento.
Dentre as causas de desnutrição hospitalar em pacientes veterinários, estão: a não identificação do aumento das necessidades energéticas, bem como da proporção adequada entre os nutrientes durante a internação; não reconhecer a importância da nutrição incorporada ao protocolo terapêutico; a não observação da quantidade de alimento ingerida pelo paciente durante o tratamento e a demora na utilização dos recursos disponíveis para promover a adequada nutrição.
Quando um animal saudável passa por um período de privação de alimento, ele aumenta a oxidação dos estoques de gordura corporal e diminui o catabolismo proteico, como forma de preservar a massa magra. Já no processo de desnutrição associado a uma doença, há uma demanda maior de energia, devido às alterações endócrinas e liberação de mediadores inflamatórios, como acontece em quadros de traumas (incluindo pós-cirúrgico), queimadura, sepse, processos infecciosos, etc.
Em casos de traumatismos cranianos severos, essa demanda pode atingir o dobro das necessidades energéticas, prejudicando assim a resposta do organismo à injúria sofrida quando a demanda não é suprida. A maioria dos pacientes admitidos na internação apresentam hiporexia ou anorexia há algum tempo, comprometendo seu estado nutricional.
O clínico responsável pelo animal deve ser capaz de realizar uma avaliação e definição dos riscos nutricionais ao qual o paciente estará submetido. Animais com déficit de reservas corporais, apresentando baixo escore corporal e de massa muscular, possuem prognóstico mais desfavorável, o que contribui para uma maior a taxa de óbito (Brunetto et al.,2010).
A principal meta para o suporte nutricional destes pacientes é prover níveis adequados de nutrientes de acordo com a patologia associada, estabelecendo o requerimento mínimo e formulando um plano nutricional adequado, de maneira a evitar longos períodos sem alimentação.
Esse plano nutricional adotado deve ser revisado periodicamente levando em conta a aceitação do paciente e sua evolução clínica.
No passado, era comum acreditar que o paciente voltaria a comer quando melhorasse e não era dada a devida importância para a nutrição como parte do protocolo terapêutico, porém atualmente é sabido que a implementação de um suporte nutricional precoce está relacionada à um melhor prognóstico e um menor tempo de hospitalização. Existem diversos métodos para prover o aporte nutricional adequado ao paciente hospitalizado.
De maneira geral, existem duas classificações para esse aporte: nutrição enteral (NE) e nutrição parenteral (NP).
A NE pode ser feita através de ingestão voluntária, forçada com auxílio de uma seringa, sonda nasoesofágica, sonda nasogástrica, sonda esofágica, sonda gástrica ou sonda jejunal.
Esta via é considerada a mais barata, prática e segura para administração de alimentos e deve ser a preferida quando a via digestiva se encontra preservada. A nutrição dos enterócitos é de grande importância para evitar complicações no período de recuperação, mantendo a função de imunidade presente no intestino, diminuindo a ocorrência de translocação bacteriana e sepse.
A sondagem nasoesofágica e a nasogástrica (Figura 1) são as mais utilizadas devido a facilidade de implantação, além de não precisar submeter o paciente à anestesia geral, diminuindo os riscos do procedimento. Yu et al. (2013) não encontraram nenhuma diferença nas taxas de complicações apresentadas entre as duas técnicas, que inclui regurgitação, vômito, diarreia, epistaxe, aspiração pulmonar, síndrome da realiamentação, remoção precoce do tubo, entre outras.
Figura 1. Colocação da sonda nasogástrica em um cão
Já a NP pode ser total ou parcial.
A total é quando toda a necessidade nutricional do paciente será administrada por essa via, já a parcial pode ser utilizada como um complemento da via enteral. Há indicação do uso da NP em casos de obstrução intestinal, pós-operatório de algumas cirurgias do trato gastrointestinal, em quadros de diarreias profusas e suspeita de má absorção, pacientes que se encontram em coma ou com déficit neurológico grave, dentre outros.
O paciente que for submetido a esse protocolo, deve ter corrigidas suas alterações hidroeletrolíticas e ácido-básicas para evitar alterações metabólicas importantes durante o procedimento. O paciente deve ser monitorado clínica e laboratorialmente durante o período de utilização da NP, através da dosagem de eletrólitos e glicemia, principalmente (Remillard; Saker, 2006).
Apesar do potencial risco, a síndrome da realimentação é pouco relatada na medicina veterinária.
Ela acontece quando um paciente que está sem se alimentar a algum tempo, recebe grande quantidade de alimento sem adaptação gradual na ingestão de sua necessidade energética diária. As causas dessa síndrome ainda não são muito claras, porém, sabe-se que quando um paciente está caquético, muito debilitado e há vários dias sem comer, a alimentação deve ser introduzida gradualmente, respeitando sua fisiologia a fim de se evitar um desarranjo metabólico que pode ser fatal.
Mesmo que gradualmente, o suporte nutricional deve ser implementado o mais precocemente possível para auxiliar no tratamento e recuperação dos pacientes, conforme demonstrado por Liu et al. (2012) em um estudo retrospectivo com 45 cães apresentando peritonite séptica, onde relataram um menor tempo de hospitalização em pacientes que receberam alimento, independente da via de administração, até 24 horas do período pós-operatório. Brunetto et al. (2010) relataram uma porcentagem maior de alta hospitalar (93,2%) associada a um menor tempo de hospitalização em pacientes que consumiram maior quantidade do total da necessidade energética de manutenção (NEM), quantidade esta que variou entre 67-100% da NEM.
Assim sendo, a nutrição hospitalar deve ser encarada como parte importante da terapêutica empregada à recuperação do paciente, respeitando a espécie trabalhada e suas necessidades nutricionais em cada fase da recuperação.
CÓDIGO | EXAMES | MATERIAL | PRAZO DIAS |
844 | PERFIL NUTRICIONAL – VITAMINAS, MINERAIS E HEMOGRAMA (Hemograma completo, vitamina A, vitamina B12, vitamina C, vitamina E, cobre, zinco, ácido fólico, cálcio, fósforo, sódio e magnésio) | Tubo tampa roxa e vermelha | 12 |
1093 | PERFIL NUTRICIONAL COMPLETO (Hemograma completo, Ureia, Creatinina, TGP (ALT), Gama GT, Fosfatase alcalina, Proteínas totais e frações, Vitamina D3, SDMA, Dosagem de fenobarbital, Triglicerídeos, Colesterol total e frações, Dosagem de cortisol basal – RIE)
NOVIDADE |
Tubo tampa roxa e vermelha | 10 |
1092 | PERFIL NUTRICIONAL INTERMEDIÁRIO (Hemograma completo, Ureia, Creatinina, TGP (ALT), Gama GT, Fosfatase alcalina, Proteínas totais e frações, Vitamina D3, SDMA, Insulina endógena, Triglicerídeos, Colesterol total)
NOVIDADE |
Tubo tampa roxa e vermelha | 10 |
1091 | PERFIL NUTRICIONAL BÁSICO (Hemograma completo, Ureia, SDMA, Creatinina, Fosfatase alcalina, TGP (ALT), Gama GT, Proteínas totais e frações, Vitamina D3)
NOVIDADE |
Tubo tampa roxa e vermelha | 10 |
317 | Vitamina A (Retinol) | Tubo tampa vermelha (protegido da luz) | 12 |
318 | Vitamina B12 (Cianobalamina) | Tubo tampa vermelha (protegido da luz) | 5 |
319 | Vitamina C (Ácido ascórbico) | Soro congelado (protegido da luz) | 15 |
867 | Vitamina D3 (Calcidiol) | Tubo tampa vermelha | 2 |
322 | Vitamina E (Tocoferol) | Tubo tampa vermelha (protegido da luz) | 12 |
216 | Ácido fólico | Tubo tampa vermelha (protegido da luz) | 4 |
105 | Glicose (glicemia) | Tubo tampa cinza | 1 |
1086 | Perfil Eletrolítico Completo (cálcio iônico, cloro, magnésio, sódio, potássio, fósforo) | Tubo tampa vermelha | 1 |
331 | Perfil eletrolítico (sódio, potássio, cloro, cálcio total) | Tubo tampa vermelha | 1 |
M.V. Mariana Kelly Luiz Reis – CRMV MG 16762
Coordenadora do serviço de nutrição clínica do Santo Agostinho Hospital Veterinário